O futuro é uma ideia incerta e complexa que já está sendo construído. Essa ideia não é diferente para quando falamos do futuro da medicina.
O futuro é uma ideia incerta e complexa. Existem infinitas possibilidades para onde podemos caminhar, e são essas definidas por meio das escolhas do presente. Nesse sentido, o futuro já está sendo construído e essa ideia não é diferente para quando falamos do futuro da medicina. Muito falamos sobre robôs, nanotecnologias, automatização dos processos e procedimentos, telemedicina, inteligência artificial, dispositivos wearables, farmacogenômica, entre outras tecnologias que estão já sendo desenvolvidas e aplicadas na trilha que nos levará ao futuro. Mas, é de grande importância que se compreenda que essas são ferramentas, e o futuro, de fato, está nos conceitos.
O médico Pedro Schestatsky em sua palestra ao TEDxSão Paulo de 2022 afirma que estamos, como sociedade, perdendo saúde. Pela primeira vez em décadas, a expectativa de vida dos mais novos é menor que a dos mais velhos. Várias causas podem ser imaginadas: má alimentação, sedentarismo, estresse, consumo exacerbado, crises financeiras e ambientais, e a lista segue. Há nesse dado uma preocupação explícita que precisa ser investigada com urgência, buscando soluções que revolucionem a medicina para além de máquinas. Um dos conceitos chave da medicina é o cuidado: não existe medicina sem esse. No entanto, muitas vezes, médicos encontram-se completamente desconectados de seus pacientes.
Bárbara Elisa Zwetsch e Ana Luiza Trein exploram a etimologia da palavra cuidar no ANAIS DO XIV ENCONTRO NACIONAL DA ABRAPSO. A palavra cuidar vem do latim cogitare, que significa pensar; essa ideia sugere que para cuidar de algo ou alguém, precisa-se, antes de tudo, pensar no objeto ou na pessoa. Além disso, expressa a ideia de “zelar pelo bem-estar, ocupar-se de, tratar de, sustentar”.
A ideia de sustentação é extremamente complexa e coloca em pauta um cuidado completo, que nutre, respeita, faz sobreviver, evita a queda. Existe, ainda, outra vertente etimológica que explica a palavra cuidar, que também advém do latim: coera, que remete a nossa palavra portuguesa cura. As duas significâncias das raízes apresentam a atitude de colocar a atenção sobre, mostrar interesse, dedicar-se. Assim, começa-se a compreender o papel médico com outro intuito, que foge do anti – antidepressivos, antidiabéticos, antiepiléticos, antipsicóticos, anti-inflamatórios, antibacterianos etc. A ideia central de médicos e pacientes trabalhando em conjunto cristaliza-se como fundamental: é preciso que exista uma conexão entre essas partes. Isso significa que o futuro da medicina está na prevenção.
Dessa maneira, para que exista prevenção é necessário cuidado. É preciso prestar atenção no paciente, em quem esse é, no que faz, no que se alimenta, no seu passado. Não é possível construir um futuro sem raízes, é preciso apreender que o conhecimento do passado é a base do cuidado. Não se pode buscar novas tecnologias sem essa percepção, essas não bastam, não se sustentam e não sustentam a medicina. Ademais, os médicos precisam se conectar com seus pacientes, com suas histórias. Assim, o foco muda da doença, e vai para o paciente, para o seu dia a dia e assim, portanto, a medicina torna-se o cuidado com a saúde, junto ao tratamento de doenças, tendo as tecnologias como aliados.